quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Ciclos ou Seriação?

Ciclos ou Seriação? Eis a questão. Ou, não é bem essa a questão...


Mais uma vez estamos perdendo tempo e energia em discutir a forma e não o cerne do problema. A forma é imprescindível para a concretização da idéia, sei disso. Mas, urge colocar à luz questões históricas que, a despeito de todas as teses educacionais respaldadas em pesquisas (importantes ou nem tanto), não foram solucionadas. Parece-me que o sistema de seriação ou de ciclos se não for contemplado por políticas públicas sérias e contínuas que consigam reverter esse quadro crônico de vaidades partidárias, onde cada um quer mudar para criar “fatos” que, necessariamente, não ajuda a educação e não se compromete com o seu objetivo maior que é a aprendizagem, não é bem a questão...
            Considerar que a reprovação é a garantia de qualidade e manter o discurso anacrônico de que antes a escola cumpria melhor o seu papel é uma posição ingênua ou, talvez, pouco louvável. Antes, a escola era seletiva. E, estamos falando da escola pública! Ela foi constituída por uma ideologia positivista do saber que excluía por meio de avaliações aferidas por uma média matemática. Educação pública seletiva! Escola pública é para garantir o acesso à informação, à aprendizagem contemplada por um programa sistematizado que possibilite ao ser humano o exercício de cidadania. Para todos os brasileiros, e não somente para os mais pobres, como é o pensamento corrente na sociedade do nosso país. E aí está uma questão...
O lema era e continua sendo “um povo educado é o que faz uma nação”! Então, educação para todos... Mas os governantes não deram conta dessa empresa e a sociedade não soube cobrar esse direito. Numa visão “salve-se quem puder” os mais abonados foram à procura de uma educação (não sei se de qualidade!?) oferecida pelas escolas particulares. Salvo exceções, a escola pública foi delegada aos cidadãos de baixo rendimento.
         Sei que todos podem aprender. Mas sei, também, que problemas socioeconômicos, físicos e psicológicos influenciam a aprendizagem do aluno que deve dar respostas positivas a avaliações, num tempo estabelecido, que visam o controle e não, necessariamente, a aprendizagem. O aluno não conseguiu a nota mínima como mostra explícita de aprendizagem, então, reprova-se. Eis outra questão....
           O aluno reprovado quase nunca consegue ser o bom aluno idealizado pelo sistema. Portanto, outra vez, reprova-se. Bem, a escola não é o seu lugar. Então, evade-se. A escola mantém a qualidade, mas está longe de proporcionar educação para todos. E aí? Reprovação em massa, além da crueldade cívica é feio para qualquer governante. O que fazer? Num toque de caixa e com mera troca de terminologias impostas, já foi provado, que não é a solução. E essa comprovação não demanda grandes pesquisas (possivelmente encomendadas). Basta estar em sala de aula para saber que a força da lei não é suficiente para solucionar o problema. Aprovação automática? Isso é inconcebível. A escola precisa se comprometer com a aprendizagem do aluno. Mais uma questão...
             Eu sei, e vivo isso cotidianamente, que as especificidades físicas, intelectuais e sociais diversas dos alunos não permitem que todos caminhem no mesmo diapasão proposto. Tratamos da inclusão (alunos diagnosticados), da defasagem (distorção série/idade) e da dificuldade de aprendizagem do estabelecido pela escola. Cursos e palestras já nos fizeram conhecer os vários distúrbios que levam o alunado a aprender de forma e ritmo diferenciados. Mas, não nos ofereceram condições para a implementação de tudo isso. Faltam-nos estruturas física e humana que possibilitem a continuidade de bons projetos e boa vontade política para tirar a educação desse estado mórbido de descaso. Eis aí a grande questão!
            A escola para se comprometer com a aprendizagem e a aprovação não pode contar só com os professores. Faz-se necessário uma rede bem tecida de profissionais que possam dar atenção a essa diversidade. A aprendizagem não acontece mais com o quadro, o giz, o caderno e o lápis. A complexidade da sociedade moderna exige novas e concretas intervenções profissionais afins e que tire o ranço da instituição escolar como local de ensino. Escola é lugar de proporcionar os vários meios de aprendizagem. Mas ela, ainda, é medida por provas periódicas iguais que geram dados estatísticos que não garantem a qualidade da aprendizagem. Provas periódicas iguais estão a serviço do controle e da caça aos culpados. E, entre tantas questões, mais uma questão... De quem é a culpa?          
                                
                                                                         Marlene Aparecida de Catro Antinoro

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